— Tolisses

Coisas do Ulisses Mattos

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Cocadaboa

Nunca tive um bichinho de pelúcia. Nunca vi graça nenhuma neles. Também nunca entendi o fascínio que as mulheres têm por esse brinquedo. Mas minha rejeição a ele não me levou ao ponto de me recusar a compactuar com essa indústria. Se uma mulher me falasse que queria ganhar um CD de funk ou um livro de auto-ajuda, eu pensaria: “Opa, amigo pênis. Lamento, mas não vou comprar lixo só para você se dar bem”. Já se ela falasse que queria um cachorrinho de pelúcia, tudo bem. Vou comprar um negócio que não vai ter utilidade nenhuma, mas pode valer a pena.

Sim, porque tirando o fato que eles servem para ajudar a pegar mulher, os bichinhos de pelúcia são realmente inúteis para quem não é criança. Mas vai me dizer que uma mulher com mais de 18 anos na cara fica brincando com o bichinho de pelúcia? A única vez que vi uma mulher brincar com um deles foi num filme da veterana Cicciolina. Mas a coisa era bem diferente:

As barangas conseguiram sobreviver até o século 21. Não pensem que isso foi fácil. Para chegar até aqui, as mulheres feias (ou qualquer expressão politicamente correta que o leitor preferir) tiveram que ralar muito para passar adiante seus genes. Precisaram se aproveitar de homens bêbados, seduzir rapazes virgens a perigo, exercer eventuais poderes político-financeiros ou até mesmo encontrar moços com elevação espiritual suficiente para ignorar o conceito de feiúra. Tudo isso valeu a pena, pois nossas amigas (só amigas mesmo, pois mais que isso queimaria o filme) conseguiram atingir este momento mágico da história humana: estamos em uma era em que as barangas, em vez de serem apedrejadas nas ruas – já que a valorização do físico nunca foi tão grande – , contam com várias ferramentas criadas para que possam se misturar a princesas, musas, beldades, gostosonas ou bonitinhas.

A primeira técnica usada para a baranga evitar a rejeição da sociedade é a cirurgia plástica.

Eu costumava dizer que não existe trocadilho ruim, assim como não existe pizza ruim. Mas começo a mudar de opinião. Não quanto às pizzas, mas quanto aos trocadilhos. Na verdade, o problema não reside exatamente nos trocadilhos, mas sim no uso que as pessoas fazem de alguns deles. É algo meio “diga-me de que trocadilho abusas e te direi quem és”. Cheguei a essa conclusão na época em que tentei me tornar um mestre de aikidô, uma interessante arte marcial. No início, procurei me preparar para os trocadilhos infames. Depois resolvi relaxar, pois pensei que o povo brasileiro já estava pronto para ouvir essa palavra sem falar gracinhas. Pensei que os primeiros comentários de alguém que soubesse que estou aprendendo aikidô fosse “Ah, é aquela luta do Steven Seagal, né?”. Ledo engano.

Logo as pessoas vieram com os dois trocadilhos mais bestas que poderiam fazer. O primeiro tem conteúdo sexual, que é relacionar aikidô com a frase “ai, que eu dou”, fazendo uma insinuação de que essa luta na verdade é uma forma de confessar sua homossexualidade. Hahaha. De novo: Hahaha. Deveria eu dizer “vou rir para não perder o amigo” ou ainda mostrar minha mão ao colega e pedir que ele escolha um dedo para que eu use para roçá-lo em minha axila de modo que eu ria? Ou mesmo fingir que tenho uma manivela do lado do meu tórax e rodá-la imaginariamente acionando meu mecanismo de risos? Pelo amor de Deus! Que tipo de trocadilho é esse? E o pior é que minha mãe um dia me telefonou aos risos para dizer que viu no Zorra Total um personagem boiola dizendo que gostava de praticar tae-kwon-dô, judô, aikidô ou qualquer outra coisa que tenha “dou”.

Você está em pé no banheiro do seu trabalho, de frente para o mictório, diminuindo a parte líquida de seu corpo. De repente, chega outro homem no recinto e ocupa o mictório ao seu lado. Pelo canto dos olhos você identifica o colega. É um cara para quem você daria um simpático “oi” ou um afável “fala, garoto!” se cruzasse com ele pelo corredor. Mas vocês não estão no corredor. Estão no sanitário e com seus órgãos mais preciosos nas mãos. E aí? Vai cumprimentar o colega?

Pode parecer idiota, mas essa situação acontece a cada minuto em universidades, academias e ambientes de trabalho. O problema é que nunca se ensinou nas escolas a matéria Etiqueta no Banheiro Masculino. Os sanitários coletivos se tornaram locais onde o instinto é que manda. Nada de regras, acordos ou convenções. Cada um age como quiser ao se deparar com um conhecido a urinar a seu lado. Daí o choque de reações. Na situação lá de cima, a maioria das pessoas finge que não percebeu que tem alguém do lado e continua na aliviante atividade. Quando termina, dá a tradicional balançada e vai lavar as mãos (mesmo quem não tem esse hábito de higiene, acaba lavando, já que tem alguém perto). Só então “se dão conta” de que o colega estava lá. Aí rola uma encenação:

– Oi, cara. Como vai (só te vi agora porque não fico olhando pra quem tá do meu lado com o pau pra fora)?

– Vou bem (também não olhei pro lado, posto que sou espada). E você?