— Tolisses

Coisas do Ulisses Mattos

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Gosto de ver programas na TV mostrando animais. Não sou o único. Afinal, o “Globo Repórter” está sempre com esse tema entretendo os telespectadores que não saíram pra caçar na sexta à noite. Além disso, há até um canal inteiramente dedicado ao assunto, o Animal Planet. Lá, não aparecem apenas animais que vivem sujos, famintos e maltrapilhos pelas florestas. Há também animais do Primeiro Mundo, ou seja, cães e gatos bem tratados. Foi num dos programas do canal que vi uma competição de cachorros executando as maiores proezas, saltando pra pegar discos atirados por seus donos.

Os bichos pulam a incríveis alturas, para deleite dos humanos que ficam observando o espetacular esforço de um animal para pegar algo sem importância atirado no ar. Mas não convém se sentir superior ao pobre cão de língua de fora. Basta lembrar que nossa espécie perpetua um hábito extremamente parecido com esse: o curioso ritual das solteiras em disputa pelo buquê da noiva.

 

Percebam. Não há muitas diferenças nas duas situações. Se bem que o cachorro depois é recompensado com um biscoitinho. A moça que entrou na contenda e derrotou outras solteiras menos ágeis e altas (ou de salto menor) ganha apenas um punhado de flores. Às vezes ainda dá vexame, caindo no chão ou deixando os seios também saltarem para fora do tomara-que-caia, como foi registrado nessa foto que navega alegremente pela internet.

 

Há um agravante nesse ritual. Normalmente, as mulheres não sabem o que fazer depois com o tal buquê. Realmente, não existe um consenso sobre o destino do troço. Perguntadas sobre o que fazer com o buquê após a conquista do artefato, as mulheres nunca dão a mesma resposta. Há quem diga que o buquê deve ser jogado fora na saída da cerimônia. Outras acham que deve ser guardado até as flores murcharem. Algumas afirmam que é bom tirar uma das flores do buquê e guardar dentro de um livro. Uma até se surpreendeu diante da minha questão, dizendo que não sabia que podia levar pra casa. Não duvido que haja quem guarde no freezer, esperando o  noivo aparecer. As mulheres só parecem concordar quando dizem que a vencedora do buquê nunca é a próxima a casar. Então para que tanta disputa? Rex explica.

 

Versão original publicada em janeiro de 2004, na revista Domingo, do Jornal do Brasil.