— Tolisses

Coisas do Ulisses Mattos

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Revistas e jornais

Clóvis Bornay foi um dos nomes mais famosos do carnaval. Museólogo e carnavalesco, Clóvis era considerado um verdadeiro gênio na arte de criar fantasias, a ponto de ser declarado hors-concours nos desfiles de que participava, já que quase sempre vencia o concurso quando subia na passarela com seus trajes exuberantes. Ele morreu em 2005, aos 89 anos, e causou comoção. Seu rosto e sua voz eram conhecidos por milhares de pessoas, mas poucos o conheceram melhor que Ed, em quem Clóvis nunca pôs os olhos. Foi apenas por telefone que os dois conversaram durante 16 anos. Os bate-papos, que rolavam a qualquer hora do dia, mesmo de madrugada, começavam com Clóvis sempre sendo amável, mas terminavam aos palavrões, com Ed sendo xingado. Por quê? Ah, sim. Faltou dizer que essas ligações eram trotes. Sim, Ed passou 16 anos mandando trotes para Clóvis Bornay.

A MAD era uma das minhas leituras obrigatórias no fim da infância e adolescência. Não imaginava que um dia iria fazer para a revista uma das sátiras de cinema que eu tanto curtia. Foi o que aconteceu depois da estreia do filme “Thor”, quando recebi a encomenda de um roteiro zombando da produção, enfiando também X-Men e algo de Vingadores no meio. Gostei do resultado, que saiu na edição 38, de maio de 2011. Ainda mais porque o texto ganhou a sensacional arte do talentoso Camaleão.

Não vou escanear cinco páginas da revista, mas aí vai um trechinho da sátira:

Para ter uma ideia da história, é uma boa conferir esse link no blog do Camaleão, onde a arte está completa, mas sem o meu texto nos balões. Mas o melhor mesmo é pegar um exemplar num sebo qualquer. Baratinho.

O que impede que um rapazinho com um dos maiores QIs do planeta, admitido no MIT aos 15 anos, se torne um nerd solitário com mais intimidade com computadores do que com mulheres?

A resposta: um irrefreável desejo de curtir os prazeres da vida. Ainda mais quando se torna o herdeiro de um império industrial aos 21 anos. Esse é Anthony Stark, mais conhecido na alta-roda como Tony, um dos maiores playboys de todos os tempos, dono de uma fortuna avaliada pela revista Forbes como a oitava maior no mundo da ficção. O número de mulheres que ele faturou não está (ou melhor, está) no gibi da Marvel, editora americana que publica suas aventuras desde a criação por Stan Lee e Jack Kirby, em 1963. Os quadrinhos até mostraram o sujeito em romances mais sérios.

Mas o garanhão já foi retratado perdendo a paciência com uma delas e jogando-lhe na cara que ela era apenas mais um peixe em seu oceano. E o que faz um playboy quando decide ter superpoderes? Simples: constrói uma máquina mais possante do que qualquer um dos carrões que tem em sua mansão em Malibu. Assim, Tony decidiu brincar de super-herói vestindo a armadura do Homem de Ferro. Reparem que ele poderia escolher identidades como “Homem Metálico” ou “Superencouraçado”, mas fez questão de que seu nome de guerra lembrasse a expressão chula “passar o ferro”. Coisas de Tony.

A vida de super-herói não evitou que nosso ídolo continuasse caindo na farra e até enchendo a cara. Tony ficou conhecido nas HQs por seus poderosos porres, e muitos apostam que ele poderia até ter convertido sua armadura para ser movida a álcool. Mas, verdade seja dita, ele nunca foi de drogas mais pesadas.

Para ele, consumir heroína era simplesmente levar a Mulher Hulk ou a Vespa para a cama. E, como nunca foi de dispensar aranhas, Tony também traçou a Mulher- Aranha e a Viúva Negra. Para se ter uma ideia do quilate da última, quando a biografia de Tony foi parar no cinema, chamaram Scarlett Johansson para interpretar a bela russa. E Robert Downey Jr., escalado para o papel principal, ficou tão bem como o bon-vivant que foi cotado pra interpretar o maior playboy de todos os tempos, Hugh Hefner. Mas aí já é outra história…

 

Por Ulisses Mattos

Publicado originalmente em junho de 2010, na coluna “Os maiores playboys de todos os tempos”, na revista Playboy.

O sujeito estava sentado em frente à TV, vendo um programa qualquer. Veio o intervalo. Os anúncios. O comercial. É, veio o intervalo para os anúncios comerciais. Sempre vem. São os anunciantes que pagam a programação que a TV lhe dá de graça. “Mas e a TV por assinatura? O telespectador está pagando para ver anúncios também? Ou teria que pagar mais na assinatura se não houvesse propaganda ali também?”. O rapaz já estava começando a deixar aquele pequeno estalo que teve virar indignação. Até que surgiu um anúncio que lhe prendeu a atenção. Era um daqueles com uma sucessão de cenas agradáveis, que se enfileiram até que o produto seja finalmente revelado.

Uma criança correndo com um cachorrinho. Eles caem e rolam contentes na grama. O telespectador nunca tinha feito aquilo, mas teve a impressão de que se esfregar no mato, mesmo podendo encontrar carrapatos, era algo bom. Em câmera lenta, pelo menos, parecia ser.

Uma família sentada à mesa, esperando a mãe chegar com o prato principal, algo delicioso como só um cadáver animal bem temperado consegue ser. O vovô fala alguma coisa e todos riem, enquanto a vovó lhe faz uma cara de “ah, seu maroto, você não tem jeito!”. O telespectador não sabe o que o velhinho palhação disse, pois esse tipo de comercial só tem música, nada de diálogos.

Sabemos que é inevitável. Vamos ver todos os ícones do humor morrerem um dia. Isso se dermos sorte, pois corremos o risco de empacotarmos antes deles. Mas se a morte dos comediantes é mesmo um fato a ser aceito, impossível de contestar, podiam pelo menos dar um jeito de mudar os procedimentos normais nesses casos. Temos que bolar um jeito diferente de lidar com o falecimento deles. Há comediantes com uma história tão repleta de momentos cômicos que podem causar momentos embaraçosos. Imagina chegar perto do caixão para dar aquela famosa última despedida, olhar para a cara do finado e começar a rir. Vexame.

Por isso é que deveria ser elaborado um esquema extraordinário para tratar da morte dos comediantes e humoristas. Assim que um deles morresse, um departamento especial (a ser criado pelo Ministério da Cultura) seria acionado. Esses agentes comunicariam a Imprensa, que agiria como combinado previamente. Sairia uma grande reportagem nos jornais sobre a vida do falecido, mas sem nenhuma alusão à morte do sujeito. As TVs mostrariam uma coletânea de cenas engraçadas do artista, também sem dizer que ele morreu. Seria a senha para o público entender o que acabara de se passar. Para reforçar a mensagem, talvez alguns outdoors da sempre divertida empresa de seguro funerário Sinaf, com o rosto do comediante estampado nas ruas, mas sem dizer que ele bateu as botas.

Programas como o “American Idol” e seus filhotes que nasceram ao redor do planeta fazem bem mais do que mostrar gente com talento, se esforçando para chegar ao estrelato. Essas atrações entregam ao telespectador algo tão interessante quanto os ídolos em potencial: sabem explorar o ridículo de quem vai lá e fracassa miseravelmente. Muitas vezes, a impressão que se tem é que existe um pacto silencioso entre os produtores e um tipo todo especial de ridicularizados.

 

À primeira vista, pode parecer que esses programas têm o objetivo de humilhar os sem-talento, para o bel-prazer dos sádicos na frente da televisão. Mas não é por aí. No fundo, o que o programa faz é realizar o sonho de algumas dessas pessoas, que só querem aparecer na TV. Sim, pois é impossível que muitos desses candidatos achem que sabem cantar.

 

Na versão brasileira que foi exibida pelo SBT, teve um sujeito que, depois de fazer mil poses para a câmera na fila de espera e se apresentar para os jurados, confessou ao apresentador que não tinha nenhum jeito pra cantor. Tava na cara que o rapaz, com tantos americanos já fizeram em tantas temporadas de American Idol, só queria suas parte no sonho warholiano, com seus minutinhos de fama.

 

A ridicularização feita por esses programas, de forma menos ou mais discreta, é só um preço a se pagar pelo desejo realizado. É o que acontece também na seleção de candidatos para o Big Brother Brasil, com aqueles vídeos caseiros que mostram o que há de mais ridículo na espécie humana. Eles não se importam, só querem aparecer, poxa vida.

 

Essa vontade irresistível tem diferentes níveis. Às vezes, é coisa simples de ser satisfeita, bastando o indivíduo parar atrás de alguém que está sendo entrevistado na rua, dando uma de papagaio de pirata. Tática semelhante é usada pelas mocinhas que vão aos programas de auditório, usando sua melhor roupa e caprichando na maquiagem para serem selecionadas para as primeiras fileiras. Uma vez, fiquei com uma garota que se gabou de já ter ido ao Domingão do Faustão e ter sido escolhida para ficar na segunda fila. Ela usava isso como prova de que era bonita. E o mais ridículo é que um dia me peguei usando essa informação também para me gabar com amigos , dizendo que fiquei com menina acima da média (opa, estou fazendo de novo?).

Mas é nas mensagens para os comentaristas, durante as transmissões de jogos de futebol, que vemos a expressão mais contida (e talvez das mais frustrantes) dessa vontade de aparecer. O sujeito decide que quer ver seu nome na tela da TV sendo lido pelo narrador da partida. Então resolve usar o recurso que a Globo oferece e envia por e-mail sua sensacional pergunta. Na falta do que dizer, manda algo do tipo “E então, Casagrande? É cedo para comemorar o resultado?”. Se essa é a pergunta selecionada, imaginem as que ficaram de fora.

Mandar essas perguntas para comentaristas só pode ser vontade de aparecer. E a coisa ficou ainda mais “interessante” com a possibilidade do envio de uma gravação sua fazendo o tal questionamento. Agora o cara pode aparecer, com rosto e tudo, num videozinho no meio da transmissão. Essa é para quem quer aparecer de forma sofisticada, demonstrando que tem uma webcam em casa e banda larga para enviar o arquivo.

Mas a forma mais triste de aparecer num jogo de futebol é quando o pobre coitado vai para o estádio com uma placa saudando o narrador (“Filma eu, Galvão!”) ou ainda anunciando a novela que irá ao ar ao fim do jogo. Por esses, nem Andy Warhol esperava.

Versão original publica em abril de 2006, na coluna “1001 Polegadas”, no Jornal do Brasil.

Acompanhar a vida íntima de um casal famoso é realmente um dos maiores passatempos da humanidade. Bom, pelo menos da humanidade que está alugando o planeta atualmente. Esse hábito é tão forte que se estende a casais como Barbie e Ken. Sim, bonecos. Esse interesse pela vida do casal pode render até protestos bem bolados, como o da ONG ecológica Greenpeace, que acusou a fabricante dos bonecos de cometer danos à natureza. O rompimento entre eles foi o mote da campanha, em junho de 2011.

 

 

Mas apostar no rompimento do casalzinho de plástico não um pioneirismo do Greenpeace. A Pixar/Disney também usou essa situação para criar uma das subtramas de um de suas melhores animações. Em “Toy Story 3”, de 2010, Barbie e Ken aparecem em cenas de confronto.

 

 

Curiosamente, antes do Greenpeace e da Disney, já se apostou na separação do casal com objetivos para lá de questionáveis. O amor desses dois pombinhos foi massacrado por motivos meramente comerciais. E o arquiteto desse rompimento foi justamente a Mattel. Sim, o fabricante dos bonequinhos. Essa barbárie, sem o perdão do trocadilho, foi perpetrada em 2004. A empresa emitiu um sério comunicado oficial dizendo que o casal, que estava junto há 43 anos, decidiu dar um tempo na relação. Na falta de reportagens falando sobre o motivo da separação, foi inevitável fazer especulações.

Um dos primeiros boatos a surgir foi o de que Barbie na verdade nunca foi muito a fim de Ken. Quem realmente virava a cabeça da boneca era o Falcon. Décadas atrás, muitas Barbies de irmãs desatenciosas foram vistas na cama do Falcon de algum moleque, depois de uma árdua batalha contra o Torak. Há quem diga que os bonequinhos Comandos-em-Ação eram filhos bastardos do caso secreto, que não podia vir à tona por causa dos compromissos marqueteiros de Barbie e Ken. A boneca então estaria livre para tirar suas roupinhas caras para o velho herói de guerra.

Mas já teve gente dizendo que Falcon na verdade nunca tocou em Barbie, pois era gay. Só porque o boneco virava os olhinhos e usava uma barba meio Village People. Besteira. Falcon foi o modelo de masculinidade de toda uma geração. Quantos garotos não quiseram ter uma cicatriz no rosto, como ele? E se levantaram dúvidas sobre o destemido guerreiro, não foi surpresa quando jogaram a culpa do fim do romance entre Barbie e Ken na suposta falta de interesses do rapaz. Segundo muitos, Ken também era boneca. Ele só freqüentava a casa de Barbie para admirar suas lindas roupas. Dizem as más línguas que Ken vive no armário da Barbie.

Para dar um fim nesses boatos, esperava-se que empresários logo pusessem Ken aparecendo estrategicamente ao lado de Susi, a rival menos abastada de Barbie. Mas o bonecão ficou de lado até mesmo pela indústria de fofocas, que preferiu falar do novo amor de Barbie: Blaine, um surfista australiano. O brinquedo logo ganhou o coração das consumidoras e teve boa saída das prateleiras por alguns meses. Dois anos depois, o boneco bronzeado sumiu e Ken voltou a circular ao lado de Barbie, sem comentar o golpe publicitário que mexeu com sua imagem. Mas toda vez que algo acontece com Barbie, como mostra o vídeo abaixo, há quem pense em Ken como mandante.

 

Texto original publicado em fevereiro de 2004, na revista Domingo, do Jornal do Brasil.

 

Quem não tem frescuras sabe que cães são muito mais legais que gatos. Mas a internet está infestada de imagens de filhotinhos felinos e gatinhos adultos fazendo “fofurinhas”! Os amantes de gatos acham que qualquer foto do bichano tem que ser divulgada. Isso deixa o melhor amigo do homem em desvantagem na web. Mas há tempo de reconquistar o terreno perdido pela cachorrada! Basta seguirmos o plano de ação que tracei.

No Twitter

Embarcar em manifestações contra a falta de direitos humanos na China e postar mensagens pró-caninas, criticando os pratos feitos com carne de cão e aproveitando pra atacar gatos. Os militantes vão retuitar qualquer coisa que tenha um discurso a favor da democracia. Dica de tweet: “Não coma cachorro! Vá de churrasco de gato! #freechinesepeople”

 

No YouTube

Gravar um cachorro mastigando algo e editar as imagens para parecer que ele está cantando “Atirei o pau no gato”. Os fãs de dublagens com animais vão adorar e espalhar esse hino antifelino.

 

No RedTube / XVideos