— Tolisses

Coisas do Ulisses Mattos

Divagando

If I were a boy…

Toda hora vemos lindas artistas estrangeiras aparecendo no Brasil, a trabalho ou lazer. Há alguns anos, foi a vez da cantora Beyoncé. Não veio apenas cantar, dançar, pular, rebolar. Ela veio mostrar que é mulher de verdade. Sim, sim. Até então, Beyoncé não era verdadeiramente uma fêmea aos olhos da mídia. Tinha virado outra coisa, que geralmente ganha o nome de “diva”. Exato. O título que aqueles que não sentem atração sexual por mulheres criaram para se permitir amar determinadas figuras.

Tem gente que não fica embasbacado por mulheres. Esses se apaixonam por divas. Nada contra a tática. Tem muito machão que faz algo semelhante quando fica “de quatro” por celebridades nada másculas e os chamam apenas de artistas. Eu curto muito David Bowie e Fred Mercury, posso ficar minutos admirando os caras, não só ouvindo suas vozes mas vendo os clipes com suas performances. Grandes artistas. Tô nem aí para o que eles fazem ou faziam de sua vida sexual (a rigor, eu também não quero detalhes sobre o que meus amigos gays fazem; são amigos e pronto). Da mesma forma, gays não tão nem aí pro fato de a Beyoncé ser um interessante exemplar do gênero feminino. Ela é diva e pronto.

Mas as fanzocas acabaram tendo que ver Beyoncé na varanda de um hotel, de pijamas, com a cabeleira aplaudindo de pé a paisagem carioca. Uso aqui “fanzocas” não só para os caras que vestem maiô e dançam All the Single Ladies, imitando sua coreografia (escondidos no banheiro ou diante da webcam), mas também para as meninas que acham que uma mulher admirável tem que vir embrulhada em maquiagem, cabelo domado, roupas brilhantes etc. A verdade é que Beyoncé é mulher. Esqueça a diva. Simples assim.

Por que não podemos ter na mídia uma mulher talentosa (mesmo eu não sendo muito fã de suas músicas, sei que a moça não é uma dependente de playback, como as Britney Spears da vida) que não seja sempre uma pintura irretocável? Ou ainda, por que não podemos ter mulheres interessantes artisticamente que não precisem passar pelo processo de cachorrização? Sim, porque hoje a mocinha tem que ser diva ou cachorra, se jogando no chão e se contorcendo em poses sensuais. Lembro do tempo em que a Shakira não ficava se esfregando languidamente com o ar (como hoje faz nos clipes), e da época em que eu até achava a competente Alicia Keys meio descuidada e por demais recatada (agora estão transformando a artista em “sexy”).

Ao não passar pela penteadeira, a cantora saiu do armário. Deixou de lado a imagem de diva e se confessou mulher. Beyoncé com o cabelo todo zoado é como as fêmeas são de verdade. Quando você vai para a cama com uma bela mocinha toda arrumadinha e maquiada, no dia seguinte é algo como essa Beyoncé que você encontra ao seu lado, se tiver feito o serviço corretamente. Mulheres são assim, inclusive as gostosas. Elas têm cabelos que se despenteiam, marcas na pele, celulite e estrias (e eu nem sei qual a diferença entre celulite e estria, na prática). Por isso, quem ficou tristinha ou chocada em ver Beyoncé “desse jeito”, sugiro que esqueça a diva e procure um divã. Estão precisando de uma análise.

 

Publicado em fevereiro de 2010, com pseudônimo Odisseu Kapyn, no blog machista Papo Reto, da rede Interbarney

7 comments
  1. Renato Camargo says: 8 de fevereiro de 201021:03

    Sensacional. Finalmente um comentário coerente e não os que eu via na minha timeline.

    Mas ela é gostosa de maquiagem ou sem…

    Abc

  2. Corretor Ortográfico says: 8 de fevereiro de 201023:52

    Fantástico e inovador. Já pode se candidatar a uma vaga na Capricho.

  3. João says: 9 de fevereiro de 201010:34

    Merecia uma capa do Globo ou ao menos ser lido pelo Bial na eliminação de alguém no BBB.

  4. Tito Washburn says: 12 de fevereiro de 201018:51

    Acho que o Arnaldo Jabor já fez esse texto antes.

  5. h4z3 says: 13 de fevereiro de 201019:20

    nice post, gostei.

  6. Lucas says: 15 de fevereiro de 20103:10

    TAPA NA CARA DA SOCIEDADE

  7. Imoveis zona norte says: 20 de fevereiro de 201018:37

    Ela é uma deusa
    Paulo

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