— Tolisses

Coisas do Ulisses Mattos

Truques masculinos

Não adianta você ser um namorado, noivo ou marido fiel, honesto e sensível. Sua namorada, noiva ou esposa vai sempre querer que você seja também um cara que não repare em nenhuma outra mulher. Ela não vai entender que mesmo que você esteja disposto a não pegar mais nenhuma garota que não ela, ainda está programado biologicamente para querer cruzar com outras milhares de mulheres. Não importa a ela que seu corpo reaja involuntariamente ao cheiro e à visão de outra fêmea, nem que você continue produzindo espermatozóides suficientes para inseminar toda a população feminina do planeta. Sua mulher vai achar que você não pode nem olhar para outra, mesmo que em revistas masculinas. Para preservar sua relação com essa moça a quem você, num grande ato de renúncia aos instintos, resolveu prometer ser fiel, é preciso aprender alguns truques e continuar em paz com sua mente masculina.

Quando você estiver caminhando com ela pela rua e passar uma daquelas mulheres que são impossíveis de ignorar e você perceber que não vai resistir e acabará virando o pescoço para contemplar aquelas formas, não tema. Chegue para sua companhia e diga: “Amor, veja que roupa legal que aquela moça está usando! Você gostaria de uma igual?”. Com isso, ela vai olhar para a tal fêmea e nem vai se tocar para o fato de você estar descaradamente varrendo o corpo dela com os olhos. E sua namorada ainda vai achar você tem planos de comprar-lhe uma roupa nova. Se for o caso, até compre.

Se um dia você for flagrado com uma Playboy na mochila ou dando bobeira na gaveta, fale imediatamente que está lendo a entrevista ou alguma reportagem especial da edição. Esse truque é usado há anos e passado de pais para filhos geração após geração. E para manter a revista contigo, jamais se refira a ela como “a Playboy da Juliana Paes” e sim como “Aquela Playboy que tem a matéria com os 100 melhores discos de rock”. No caso de você comprar uma revista antiga, como a Playboy da Andrea Veiga ou da Kátia Maranhão, por exemplo, vá logo mostrando a revista rindo bastante e dizendo que foi pelo saudosismo da época e a convide, inclusive, para ver junto contigo. Depois você poderá ver várias vezes sozinho, que é como deve ser apreciada uma revista desse tipo.

No caso dos sites pornográficos o melhor é apagar todos as pegadas sujas que você deixou no computador, limpando históricos, cookies e tudo mais. Dependendo do navegador, dá até para abrir uma janela anônima e ter esse trabalho poupado.  Mas se você cometer um descuido nessa tarefa ou for flagrado navegando alegremente por sites com conteúdo impróprio e sua mulher perguntar o que você estava fazendo em “sites de sacanagem”, repreenda-a com vigor: “Sites de sacanagem, não! São sites de pessoas fazendo amor!”. Isso pode deixá-la aturdida de início, pois ela nunca pensou sobre esses sites com essa perspectiva. Em seguida, seja rápido e fale algo como “Eu estava tentando aprender novas posições para nós. Para lhe dar mais prazer”.

Se ela não for do tipo sensível e romântico, diga que estava fiscalizando esses sites para ver se nenhum deles apresentava fotos de pedofilia, pois você está disposto a fazer denúncias depois que viu uma enojante reportagem sobre o assunto. Pode colar.

Outra boa medida é não se lembrar do nome de suas colegas de trabalho, muito menos de de estagiárias. Se você estiver na faculdade, não lembre o nome de calouras. Assim, quando for contar alguma coisa que aconteceu no seu dia, não use o nome dessas meninas, pois sua namorada pode achar estranho você não guardar os nomes das tias dela mas saber nome e sobrenome de mocinhas que acabaram de chegar ao seu trabalho ou à universidade. E quando for a vez de sua mulher contar algum caso envolvendo uma amiga dela, jamais pergunte algo como “A Jussara é aquela morena de seios médios e firmes, com lábios carnudos?”. Tente se lembrar de algum comentário negativo que ela já tenha feito e reformule cuidadosamente a frase em sua mente: “A Jussara é aquela que reclama de celulite e nunca consegue firmar namoro com ninguém, né?”. É por aí.

Por Ulisses Mattos 

Versão original publicada em julho de 2004, com o pseudônimo Odisseu Kapyn, no Cocadaboa.com.

0 comments
Enviar comentário