Ameaça ao ecossistema das celebridades
É fato que no mundo das celebridades de hoje, os jogadores de futebol são figuras importantíssimas. Há alguns anos, eles não eram tão famosos. Quer dizer, quem se ligava em futebol sabia quem era aquele sujeito se desse de cara com ele ou citassem seu nome. Mas era difícil um cidadão de classe média passar por um jogador na rua, até porque os craques muitas vezes moravam mal, em comunidades afastadas. Mas o tempo foi passando, o futebol virou uma máquina milionária e os caras começaram a faturar alto.
Ao mesmo tempo que o esporte bretão se profissionalizou e enriqueceu, o culto às celebridades foi ganhando corpo. Aí, é claro, não tinha como os dois universos deixarem de se cruzar, fazendo de alguns jogadores verdadeiros pop stars. Nada contra. Afinal, os jogadores têm muito mais talento do que o sujeito que simplesmente ficou alguns meses falando besteira dentro de uma casa trancada e aparelhada com câmeras em todos os cômodos.
Mas hoje os jogadores de futebol estão criando um problema sério de desequilíbrio no ecossistema das celebridades. E tudo tem a ver com sua procriação, que saiu dos eixos habituais.
Boleiro bem sucedido sempre teve direito de pegar mocinhas bonitas, como qualquer pessoa de dinheiro. Eles faziam isso com Marias Chuteiras, namorando e até casando com beldades que se tornariam conhecidas apenas como a mulher do craque Fulanílson. Era mais uma forma de distribuição de renda através do futebol, beneficiando não só o pobre sujeito bom de bola, mas também a pobre gostosa boa de cama. Ora, quem era Mônica Santoro antes de conhecer Romário? Foi só graças ao Baixinho que a moça chegou a ter um programa na TV. E, pelo amor de Deus, quem conhecia Xuxa antes de ela ser mais um dos mais de mil gols de Pelé?
Mas, ultimamente, os atletas passaram a pegar mulheres já famosas, desde dançarinas até apresentadoras de TV. Os jogadores estão entrando definitivamente para o clubinho VIP das celebridades. Isso é péssimo para nosso ecossistema, está causando um desequilíbrio que precisa ser denunciado e combatido. Ora, se antes uma desconhecida beldadezinha qualquer quisesse tirar o pé da lama desposando um jogador de passe valorizado, bastava aparecer nos pontos de abate habituais desses predadores, como boates e churrascarias. Agora elas vão precisar primeiro se tornar famosas para só então poderem chegar até os atletas. Isso gera a necessidade de um número ainda maior de famosos nos cenários, acentuando o desequilíbrio de nosso já frágil meio ambiente, saturado de pessoas superconhecidas pelo público.
Assim, para que cada craque encontre sua parceira – não apenas para cópula, mas para procriação –, será necessário que surjam, digamos, seis ou sete novas celebridades de status mediano (os estudos ainda não estão em estágio avançado e o número é impreciso). A mídia já encontra dificuldades em construir todas essas novas celebridades para servir à cama dos jogadores.
Uma das formas encontradas pela indústria foi transformar simples modelos e manequins em gente famosa, chamando-as de top model. Muitas chegaram a cruzar e até desposar nossos craques, mas já há riscos de que elas não deem conta da demanda. A indústria dos ex-BBBs também já está tendo seus recursos esgotados.
Ou criamos uma nova categoria de “profissionais famosas” , pondo em risco a capacidade de tolerância do público, ou voltamos com os hábitos antigos dos jogadores. Eu voto pela segunda opção, num processo que poderia contar com a reeducação sexual dos craques, deixando-os isolados por um tempo em casas trancadas com câmeras, em convívio apenas com Marias Chuteiras. Dali, o craque só sairia ao casar e engravidar a moça. As fitas com o registro das cenas seriam postas à venda, é claro.
Publicado originalmente em novembro de 2007, no blog “Por esporte“, com o pseudônimo Odisseu Kapyn.